Egipto, Qatar e outros que tais

Members of the Swiss UNIA workers union display red cards and shout slogans during a protest in front of the headquarters of soccer’s international governing body FIFA in Zurich October 3, 2013. Fifa’s executive committee is meeting in Zurich on Thursday and Friday and discussing whether the Qatar 2022 World Cup should be moved from Summer to Winter because of the heat. Qatar has also been hit by criticism of its treatment of migrant workers after a report in the Guardian newspaper said that dozens of migrant Nepalese workers have died in recent weeks. The red cards read ‘Red card for FIFA – No World Cup without human rights.’ REUTERS/Arnd Wiegmann (SWITZERLAND – Tags: CIVIL UNREST SPORT SOCCER BUSINESS EMPLOYMENT SOCIETY)

Começou o mundial. Levantam-se as vozes. Com dez anos de atraso.

Estamos todos indignados com as condições em que foram construídos os estádios, com mão de obra escrava, um pouco como acontece ali em Odemira e em outros tantos locais do nosso país, mas tudo bem, assobiemos para o lado. Estamos todos indignados (e bem!) com as violações dos direitos humanos, com a opressão das mulheres e a criminalização da homossexualidade, coisa que já acontecia quando a candidatura foi feita e quando se começou a perceber que era coisa para o Qatar ganhar.

Alguns chefes de estado recusam agora comparecer ao evento, outros são criticados por quererem lá estar, mas não me lembro de tanta polémica institucional quando o último Mundial se realizou na Rússia, cujas prisões são centros de tortura e os cemitérios se enchem de jornalistas e opositores do regime há vinte anos. Ou quando as olimpíadas tiveram lugar em Pequim.

Sempre que um evento desta dimensão e com esta visibilidade é realizado num país onde vigora uma ditadura, estamos a validar esse regime. E não me venham com histórias de que é uma forma de levar alguma abertura e aproximar os povos. Quem organiza estes eventos, não quer saber dos povos, nem da paz, nem do atenuar das diferenças. Só quer saber de dinheiro e de lavagem de imagem. E nós, europeus falidos, dizemos que sim a tudo o que nos garanta algum dinheiro neste mundo onde há várias décadas passámos a actores secundários.

O mesmo acontece no que diz respeito ao clima. Numa altura em que é imperativo ir para a rua exigir mudanças e compromissos concretos, a COP realizou-se noutro país pouco democrático, o Egipto, onde as manifestações foram completamente proibidas e muitos activistas do clima silenciados. Que alívio para os senhores da muita conversa e pouca acção. O resultado da cimeira é mais uma desilusão, mostrando neste campo também a pouca influência que a Europa tem, pois por mais compromissos que cumpra (e ainda bem que o faz), não será suficiente se os países que mais poluem não abandonarem o fóssil.

Isto para dizer que, seja na defesa dos direitos humanos, seja na defesa do nosso planeta, não vale de muito protestar quando o mal está feito. É hoje que temos de agir e indignarmo-nos. É sempre que vemos coisas estranhas a acontecer. É enquanto podemos falar. Tenho repetido esta frase muitas vezes, porque cada vez me faz mais sentido: o mal alimenta-se do silêncio. Ergamos, pois, a nossa voz.

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