
Esta semana celebra-se o regresso às aulas. Celebra-se, sim, de preferência com champagne e gritos de euforia. São milhares de pais por esse mundo fora que finalmente respiram, após os três meses das intermináveis férias de verão.
É certo que haverá lágrimas de tristeza de alguns, nomeadamente daqueles que deixam os seus mais que tudo pela primeira vez no infantário, com o coração apertado e um sentimento de culpa que, garanto, desaparece completamente assim que eles crescerem um bocadinho. Porém, os verdadeiros rios brotarão dos olhos dos pais que passaram a época estival em malabarismos de gestão de horários, porque, infelizmente, não têm três meses de férias e há que trabalhar com miúdos em casa e sem absolutamente nada para fazerem.
Há os que têm a sorte de ter filhos em colégios que não fecham no verão. Outros que têm avós que levam as crianças para bem longe por duas ou mais semanas. Porém, a maioria vê-se a braços com pequenos ditadores alapados no sofá, que só estão bem de barriga cheia e protestam até quando lhes pedimos coisas básicas como fazer a cama ou pôr a mesa para o almoço
No meu caso, como trabalho por conta própria e me recuso a permitir a estupidificação dos aparelhos electrónicos, não me restou outra coisa que não ser eu a entretê-los. Ele foi praia com os amigos, ele foi Tapada de Mafra, Jardim Zoológico, passeios de bicicleta, arvorismo, mini-golfe, fazer gelado em casa, pinturas, plasticinas, eu sei lá. Chegavam os fins-de-semana e já não me apetecia sequer sair de casa. Vendo bem, talvez tenha exagerado um bocadinho, porque houve uma semana em que me pediram por favor que não fizesse mais nenhum programa.
Nessa altura, finalmente relaxei um bocadinho, dei-lhes permissão para passarem mais tempo a destruir o cérebro e a cervical com os telemóveis e tentei aproveitar os dias longos e quentes, evocando verões passados que recordo com saudade. Claro que quanto mais telemóvel viam, mais agitados ficavam, mais implicavam um com o outro, mais eu tinha de levantar a voz, mais ameaças proferidas. Ponderámos abolir os telemóveis, mas havia sempre a televisão ou outra coisa viciante, pelo que não resultava grande coisa. São crianças, coitadinhos. Temos de ter paciência. Também já fomos assim. Certo. E estamos agora a pagar por isso.
No final de Agosto, que é quando costumamos ir de férias em família, já estava tão farta dos meus adoráveis filhos que nem aproveitei bem os ansiados dias de praia. Aliás, à noite no alpendre, depois de eles finalmente adormecerem e de eu estar também praticamente a dormir, saboreava os momentos de silêncio com a alegria de um náufrago que avista terra e dava por mim a contar os dias que faltavam até a escola abrir. E sei que não fui a única. Por isso, pais de todo o mundo, soltem esses foguetes, aumentem o volume da música, façam a vossa “happy dance” e agradeçam aos professores e auxiliares que vão aturar as nossas pestes nos próximos meses. Sem complexos. Sem sentimentos de culpa. Sobrevivemos a mais um verão. Ergam-se as flutes: estamos oficialmente livres!