
Escrever é um acto de resistência.
Resistência ao pensamento comum, a ideologias, à realidade. Mas também resistência ao quotidiano, que sempre nos tenta arrastar para longe da secretária.
Quando nos sentamos à frente do caderno ou do computador, decididos a enfrentar uma nova página em branco, há sempre um telefonema, um e-mail, um carteiro que nos toca à campainha, uma máquina de roupa para estender, um peixe para descongelar, um filho que adoeceu, um cão para levar à rua, uma notícia que nos abalou, um vizinho que começou obras em casa, um convite para almoçar no outro lado da cidade, uma consulta, uma conta para pagar, o carro para levar à oficina. Há sempre a vida.
Fico genuinamente admirada quando leio entrevistas de outros autores que dizem que se sentaram durante três meses a escrever sem parar, sem fins-de-semana, sem dias de folga. Dando de barato que podem dar-se ao luxo de só escrever durante três meses, questiono-me se vivem sozinhos à base de UberEats e supermercado online ou se têm mulheres que cozinham e lavam a roupa e tratam de todas as coisas mundanas. E digo mulheres porque normalmente são autores homens que dizem estas coisas. Terão filhos? Quantas horas passarão com eles por dia? Saberão a que dia é a ginástica ou o futebol? Ou que amanhã é para levar binóculos para o passeio? E, já agora, saberão, por acaso onde estão os binóculos?
Não duvidando das suas rotinas, confesso que comigo a coisa não funciona assim. Comecei a escrever um novo romance no dia 4 de Março e ainda só vou a um terço. As interrupções são tantas que é efectivamente um acto de resistência recomeçar no dia ou na semana seguinte. E agora que a coisa estava a começar a fluir, eis que vou ser submetida a uma pequena intervenção cirúrgica que me vai impedir de escrever durante uns quinze dias… Lá está. A vida.
Bom, todo este preambulo para dizer que o blog vai continuar meio parado (não que ande muito activo ultimamente, mas como sabem, quando não tenho nada de relevante para dizer, prefiro estar calada), que estou a escrever um novo livro e que tenho algumas novidades para vos dar assim que puder.
A todos os que resistem comigo, até já.
Que Deus te ilumine e proteja para uma boa cirurgia e uma recuperação rápida.
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Obrigada Luiz 🙂
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