Querido, mudei de casa!

Faz esta semana um ano que mudei de casa.

Foi um processo, como imaginam, complicado, a começar por encontrar uma casa em Lisboa que conseguíssemos comprar. Porém, o resultado final, mesmo com obras de remodelação totais, foi muito melhor do que podia ter imaginado e é sobre isso que hoje vos falo, até porque obras é um tema que dá para escrever um romance. Mas vamos começar pelo início. Setembro de 2016.

Foi depois das férias de verão, que tivemos de nos render à evidência de que o lindo T2 onde vivíamos, começava a ficar um pouco apertado para os quatro (além de que não era nosso, era alugado). Parámos de adiar o inevitável e começámos a procurar um T3 na zona onde vivíamos. Tarde de mais: a mega especulação imobiliária já tinha começado e depressa percebemos que a Expo já não era para nosso bolso, porque isto de escrever é muito giro, mas a única casa que os livros me permitem comprar é uma casa de bonecas.
Iniciámos a busca diária nos portais imobiliários, visitas a casas que até metiam medo e eu a tentar convencer o meu marido de que se calhar devíamos sair da capital. Talvez o Barreiro, a minha terra, fosse uma opção mais adequada. Não? Mudar os miúdos de escola, acordar às 6.30, filas na ponte, greve dos barcos… Pois. Não. A busca continuou.

Março 2017
Apareceu uma casa fantástica ao lado de outra que tínhamos tentado comprar uns meses antes e à qual chegámos tarde de mais. Quisemos ser os primeiros a visitar e, nessa mesma tarde, assinámos o contrato de promessa de compra e venda. Era um T3, de áreas muito grandes, com varanda, vista muito desafogada, numa zona tranquila, com metro literalmente à porta e a oportunidade de transformá-la à nossa medida, com a ajuda do meu irmão, que por sorte (minha) é arquitecto e tem uma empresa que faz precisamente projectos e remodelações  – a Geodesic.

Em menos de dois meses o projecto de arquitectura estava pronto, que foi a parte mais fácil de todo o processo, apesar das discussões acerca do que eu via nas revistas e no Pinterest e a realidade possível perante o budget que tínhamos para gastar e as leis da física. Não sei se por me conhecerem bem, ou simplesmente por serem mesmo muito talentosos, os arquitectos Rodrigo Silva e João Pedro Cândido conseguiram integrar todos os nossos pedidos e criar, num apartamento típico dos anos 1960, daqueles com porta de serviço e quarto para a empregada, um espaço contemporâneo e funcional, com sala e cozinha em open space, lavandaria e uma suite com walk-in closet, as únicas três exigências das quais não queríamos abdicar.

No dia 5 de Junho, quatro dias após a escritura, começaram as demolições. Neste caso, a casa foi literalmente toda abaixo.

A estimativa era que a obra durasse 4 meses, ou seja, que estivéssemos a mudar de casa no final de Setembro. Claro que, como toda a gente que já fez obras em casa sabe, as estimativas nunca estão correctas. E acreditem que a Geodesic tudo fez para cumprir os prazos, mas por vezes não há mesmo como escapar aos imprevistos, aos fornecedores que não cumprem prazos, aos colaboradores que se enganam e a episódios tão surreais que, lá está, davam para escrever um romance. Este era o estado da casa no dia 22 de Setembro, a uma semana da suposta entrega.

Outubro e Novembro, foram, como se adivinha, meses frenéticos, uma autêntica luta contra o tempo, pintores, electricistas e carpinteiros, mais o homem da climatizaçao, e o chão por terminar. Valeu-nos o senhorio da casa onde estávamos ser um porreiro e permitir que fossemos adiando a saída até ao dia 5 de Dezembro.

Foram muitas noites sem dormir para o meu querido irmão, que tinha o peso de não querer ver os sobrinhos a dormirem debaixo da ponte, e que nas últimas semanas pôs literalmente as mãos na massa e até eletrodomésticos montou, enquanto eu ia ligando à empresa de mudanças para adiar mais uns dias a dita. Até que, no dia 5 de Dezembro, ainda sem conseguir mexer o pescoço devido a uma cirurgia de remoção da tiróide feita no dia 20 de Novembro (eu avisei que isto dava para escrever um romance), conseguimos passar a primeira noite na nossa Casa nova !

Claro que a história não acaba aqui. Ficaram muitos acabamentos por terminar, portas, rodapés, pinturas e vários meses com dezenas de caixotes com livros no meio da sala até ter a minha estante feita à medida pronta (peça de mobiliário importantíssima para qualquer escritor). Mas hoje, olhando para trás, valeu a pena cada irritação, cada adiamento, porque a casa está exactamente como tínhamos imaginado e todos os dias é um prazer viver nela. E acho que é este sentimento que acaba por alimentar a alma dos meus arquitectos e (quase) compensar o que têm de passar e abdicar das suas vidas pessoais a cada projecto que fazem. Ou assim espero.

Este é o resultado. Parabéns a toda a equipa e bem-vindos à minha casa.

E agora os conselhos para quem se vai meter numa aventura destas.

  1. Escolher uma empresa de confiança e com quem nos sintemos à vontade para discutir todos os aspectos envolventes.
  2. Fazer muita pesquisa de imagens para saber explicar ao arquitecto o que se quer com o máximo de detalhe possível.
  3. Estar aberto a sugestões e saber ceder quando a nossa ideia não é exequível ou funcional. Mas não ceder naquilo que achamos mesmo importante, porque somos nós que vamos viver na casa e olhar para cada pormenor todos os dias.
  4. Colocar pelos menos mais 2 ou 3 meses à data de entrega prevista, só para gerir as expectativas. (Mesmo que o empreiteiro insista em que vai conseguir entregar antes)
  5. Estar preparado para que faltem sempre alguns acabamentos, que muitas vezes só ficam mesmo acabados meses depois.
  6. Ser realista com o orçamento disponível.

Créditos:

Projecto de Arquitectura: Geodesic

Projecto de Remodelação: Geodesic

Projecto de Decoração e Interiores: Filipa Fonseca Silva 🙂

5 opiniões sobre “Querido, mudei de casa!

  1. Parabéns Filipa! Está fantástica, que te inspire para continuares a escrever como tão bem sabes, e que seja um lar onde tu e os teus vão construir muitas novas boas memórias.

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