Esta noite contei-vos uma história. Há muito que não o fazia. À medida que vocês crescem, este nosso ritual tem-se tornado cada vez mais espaçado. Passam-se semanas sem que me peçam uma história e sem que eu tome a iniciativa de vos oferecer uma. Mas esta noite, apesar de impaciente porque na sala me esperavaContinue a ler “História de Embalar”
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Domingo de Verão na cidade
O vento sopra exacerbado e quente nesta tarde lânguida de Agosto, levantando folhas, saias e cabelos, mas não o tempo, que passa devagar. Nas ruas ouve-se o silêncio dos lugares sem gente, que nem os poucos que se avistam debaixo do sol escaldante se atrevem a quebrar. Movem-se em gestos lentos, falam em baixo tom,Continue a ler “Domingo de Verão na cidade”
Os melros
Uma das coisas que mais aprecio na Primavera é poder trabalhar com a janela aberta. Embora esteja na cidade, os carros, por aqui, escasseiam e os pássaros fazem-se ouvir claramente. Os que mais cantam são os melros. Para grande pena minha, sou completamente ignorante no que a ornitologia diz respeito, mas sei reconhecer um melro,Continue a ler “Os melros”
Passa por mim no Rossio
No âmbito das comemorações do 25 de Abril da Câmara Municipal de Lisboa, fui convidada para participar no projecto 48, uma das iniciativas que marcam os quarenta e oito anos de democracia após quarenta e oito anos de ditadura. O desafio foi lançado a (precisamente) quarenta e oito mulheres escritoras, poetas e cantautoras, as quaisContinue a ler “Passa por mim no Rossio”
Porque o Mindfulness não serve os artistas
Uma das principais premissas do Mindfulness, terminologia contemporânea para ensinamentos do Yoga e do Budismo com mais de seis mil anos, é que devemos viver plenamente o presente. O argumento é que não existe mais nada: o ontem já aconteceu e o amanhã ainda não chegou. Se não podemos mudar o passado e não sabemosContinue a ler “Porque o Mindfulness não serve os artistas”
O pastel de nata
No outro dia comi um pastel de nata que me fez ouvir música clássica. Juro que é verdade. Enquanto mastigava, de olhos fechados, pareceu-me ouvir uma sinfonia, como na abertura de um filme épico. Talvez o prazer que estava a sentir tenha despoletado sentidos imaginários, não sei. Só sei que há muitos anos que nãoContinue a ler “O pastel de nata”
O meu Verão
O meu Verão cheira a loendro e a maresia. Cheira a sardinhas assadas e a Perna de Pau. A farturas e a caracóis cozidos. A estradas de terra batida. Cheira a protector solar. O meu Verão soa ao canto das cigarras. A erva ressequida a estalar sob os meus passos. A gaivotas e a ondasContinue a ler “O meu Verão”
Pessoas que me irritam
Admito: não sou uma pessoa de pessoas. Ou melhor dizendo, sou do tipo introvertido, que tem dificuldade em meter conversa e que muitas vezes prefere ficar em casa com um bom livro do que ir para a rua conviver, o que não deve ser confundido com timidez, que dessa não sofro. A verdade é queContinue a ler “Pessoas que me irritam”
O legado de Quino
Isto não é um obituário. Pouco importa quando e onde nasceu Joaquín Salvador Lavado. Pouco importa em que mundo viveu ou que conjuntura política inspirou as suas tiras. Porque a sua obra, como a dos grandes, é intemporal e os problemas que retratou são os mesmos que vivemos hoje: guerras, fome, ameaças à democracia, crisesContinue a ler “O legado de Quino”
Com a neura
Hoje estou com uma grande neura. Não sei se também vos acontece, mas eu tenho alguns dias assim, sobretudo se lá fora o tempo está feio e invernoso. Acordo com a neura, qual amante indesejada que devia ter ido embora a meio da noite, e levo-a para todo o lado, como a nuvem cinzenta dosContinue a ler “Com a neura”