
Hoje venho falar sobre melancia. Não só porque é a minha fruta preferida, mas também por ser aquela que marca a estação estival, uma vez que é precisamente entre junho e setembro que se encontram os melhores exemplares. Encontram-se se tivermos a sorte de ter um vendedor de confiança, daqueles que rodam e apertam e batem na casca até nos entregar aquela melancia cuja casca estala de uma ponta à outra assim que lhe espetamos a faca.
O meu avô Alberto sabia escolher as melancias e os melões dessa forma e nunca se enganava. Bem pedi que me ensinasse a arte, mas ele apenas agarrava nas pesadas frutas, fazia o ritual do «roda, aperta e bate» e dizia, «é só fazer assim!», deixando-me como uma criança a olhar para um mágico, certa de que a magia não existe, mas sem conseguir descortinar o seu truque, pelo que, ainda hoje, apanho grandes barretes. E não há nada mais frustrante do que chegar a casa, fatiar uma melancia apenas para perceber que é demasiado doce ou demasiado mole ou demasiado farinhenta.
Uma boa melancia tem de ser equilibrada e, muitas vezes, isso nem sequer tem que ver com o tom de vermelho do seu interior. Já comi melancias divinais cuja polpa era mais rosa-claro do que carmim. Tem de ser firme e sumarenta e ter o sabor da minha infância, quando o meu outro avô, o avô Domingos, ma servia em bolinhas, feitas com uma colher de gelado em miniatura, e a minha mãe em fatias inteiras, para comer à dentada e ficar com as bochechas peganhentas. A melancia de sequeiro, alentejana (ou ribatejana, vá!), com o coração que se despega num só toque. As lutas que havia lá em casa pelo coração da melancia!
Quando a melancia é mesmo boa, não consigo parar de comer. Como e como até o meu estômago não conseguir dilatar mais ou alguém me tirar a dita da frente. Como cada pedacinho até ficar no prato apenas uma meia-lua verde e branca. E depois sinto-me como a Magali, da Turma da Mônica. No entanto, este verão ainda não tive nenhum momento Magali, uma vez que só tenho encontrado melancias que sabem a água com açúcar, injetadas com corantes e nitratos e sabe-se lá mais o quê, mesmo quando são nacionais. Um flagelo. Nem sei se o meu avô Alberto, com toda a sua perícia, conseguiria fugir a estas melancias manipuladas para ficarem bem na fotografia, ou neste caso, nas bancas dos supermercados (e mercados também!). Mais uma coisa fake, neste mundo de aparências. Fake Watermelon. Agora a sério: se alguém souber de um sítio aqui para os lados de Lisboa onde se vendam melancias daquelas mesmo, mesmo boas, por favor avisem. Uma melancia de verdade, com sabor a verão, para comer na praia depois de um banho de mar.