Só para mulheres

A minha irmã está a viajar pelo Japão e mandou-me uma fotografia perturbadora. Parece que no metro há carruagens só para mulheres. Isso mesmo, com letreiro e tudo, como nos tempos da segregação. Também no início do ano, quando eu estava a planear uma viagem à Costa Rica, deparei com um resort que oferecia uma experiência de alojamento e surf exclusivo para mulheres, com aulas dadas por professoras apenas.

As razões para este tipo de coisas estarem a aparecer são muito óbvias. Nós mulheres, estamos fartas de ser apalpadas no metro e de sentir aquele aperto no coração sempre que um homem nos olha lascivamente. Em pleno século XXI, não devíamos ter de levar com comentários indesejados, e homens que aproveitam os espaços exíguos para se roçarem em nós, mas a verdade é que isso continua a acontecer todos os dias, e não há nenhuma mulher ou menina a partir dos doze anos que não tenha passado por uma experiência dessas pelo menos uma vez na vida.

No que a férias diz respeito, também é verdade que uma mulher que viaja sozinha ou com amigas é sempre um alvo para presenças não solicitadas. E compreendo que seja muito libertador estar na praia ou num bar à noite sem nos preocuparmos se estamos demasiado despidas, descontraídas ou sensuais, porque como se sabe, a culpa de os homens se virem meter connosco é sempre nossa, e usar um bikini reduzido ou ficar alegre com umas Margaritas é sinal verde para os avanços dos machos.

Sim, estes exemplos são caricatos mas completamente justificados. O que para mim é perturbador, não é haver instituições que criem espaços onde as mulheres se sintam seguras, mas sim que, até num país tão civilizado como o Japão, haja a necessidade de criá-los. Que sociedades são estas em que as mulheres continuam a ser vítimas de assédio e violência, só porque não estão acompanhadas de um macho que as proteja? Porque é que continuamos a ter de ensinar às nossas filhas como se proteger em vez de mostrarmos aos nossos filhos como se comportar? Como é que ainda há rapazes e homens que se acham no direito de invadir o corpo e a privacidade de uma mulher só porque se conseguem impor fisicamente?

Por outro lado, esta segregação artificial, além de diabolizar os homens, gera uma falsa segurança, porque quando a mulher sair da carruagem do metro, ou quando for jantar fora do resort women only, pode à mesma ser perseguida e incomodada. A solução não é criar espaços exclusivos, geniceus contemporâneos, ou enfiar as mulheres em burkas. A solução é educar desde a infância para respeitar os limites dos outros.

Tenho um filho e uma filha. Apesar de ainda não andarem sozinhos na rua, muito menos em lugares que podem tornar-se perigosos, já ensinei os dois onde devem bater se forem atacados, como andar na rua para não se tornarem alvos fáceis e várias outras dicas de segurança. Já lhes expliquei o que é o consentimento e que não é não, seja em que circunstância for. Apesar de serem de géneros diferentes a lição é igual: respeitarem sempre os outros. Sobretudo os mais fracos do que eles. É mais simples do que parece e nunca é demasiado cedo para começar. Porque um mundo segregado, seja em géneros, raças ou religiões, será sempre um mundo mais pobre.