A primeira vez que vi umas unhas de gel foi por volta do ano 2008. Estava à porta da agência onde tinha recentemente começado a trabalhar quando reparei nas unhas de uma colega, grossas e brilhantes, humanamente impossíveis. Seria cola UHU? Seriam seis camadas de verniz? Eu sempre pintei as unhas, mas aquilo não parecia verniz. Vendo bem, pareciam cascos. Comecei a reparar nas unhas de quem me rodeava e a perceber que eu, que me julgava sempre a par das tendências, tinha passado ao lado daquela.
Por todo o lado surgiram salões onde se faziam as tais unhas de gel, que duravam semanas atrás de semanas como se tivessem sido acabadas de pintar. Percebi facilmente o porquê do sucesso: ter as unhas sempre impecáveis mesmo depois de jardinar, lavar louça, fazer desporto ou bricolage é, de facto, uma vantagem tremenda, mesmo que continue sem o fazer nas minhas. Desde então, com a evolução das técnicas e dos materiais disponíveis, criou-se uma verdadeira cultura de “nail-art”, capaz de espantar os mais cépticos. Não imaginam as coisas incríveis que se conseguem fazer numa superfície tão pequena como uma unha.
Porém, o reverso da medalha é que não foram só as possibilidades artísticas que aumentaram nestes últimos anos. Foi também o comprimento das unhacas, agora adornadas com objectos tridimensionais, que fazem com que as mãos de quem as usa pareçam ter fantoches pendurados na ponta de cada dedo. O que me leva à razão pela qual escrevo esta crónica e que nada tem que ver com gosto, mas sim com questões de praticidade.
Quando vejo mulheres cujas unhas têm mais de dois centímetros (sendo que já vi muitas com unhas de cinco), várias questões de ordem prática se me impõem, nomeadamente: como colocam as lentes de contacto? Ou abotoam aquele botão difícil das calças de ganga? Ou removem o papel de um autocolante? Como descascam os legumes? Ou colocam um colar com fecho? Ou passeiam casualmente com as mãos nos bolsos? Como usam um teclado?
As unhas longas e adornadas são uma tradição com séculos em várias culturas. Símbolo de estatuto e riqueza, pois só as usavam as mulheres que não precisavam de fazer rigorosamente nada. Porém, e uma vez que não me dou com membros da realeza, as mulheres com quem me cruzo e que usam unhas assim são pessoas comuns, que trabalham e andam de transportes públicos. Não imagino que tenham em casa um séquito de criados para as despirem, para lhes estenderem a roupa, para lhes atar os atacadores dos ténis antes de irem para o ginásio, onde também não sei como conseguem segurar em halteres. E as meias de vidro? Ajudem-me a perceber, por favor!
Mas não é tudo. Agora, além das unhas, vive-se o apogeu das pestanas. Sim, meus amigos, já não basta um rímel mais-volume-extra-plus colocado em várias camadas para um efeito dramático do olhar. Já não bastam pestanas falsas, que se podem colocar para um determinado evento ou ocasião, nem as extensões para quem gosta de parecer sempre maquilhada. Agora existe uma coisa chamada «volume russo» que consiste em colar até seis fios sintéticos em formato leque sobre uma só pestana, provocando um efeito… bom, eu diria Leopoldina. A coisa está a tomar proporções tais que, no outro dia, enquanto caminhava lado a lado com uma jovem desconhecida, notei que as pestanas dela iam um metro à nossa frente. Não quis estar a olhar descaradamente, mas pelo que vi, parecia que a rapariga tinha sido atacada por duas mariposas tropicais do tamanho de canários. Fiquei na dúvida se conseguiria ver bem as escadas que se aproximavam.
Aqui, também as questões de praticabilidade se colocam: como se dorme de barriga para baixo? Como se beija alguém sem lhe vazar uma vista? Como se usam óculos sem ser na ponta do nariz? O que se faz se entrar uma pestana daquelas no olho?
Eu sei que estas preocupações soam fúteis, sobretudo à luz de um possível desastre nuclear e de uma recessão como não se vê há cinquenta anos, mas o que hei-de fazer? Não consigo controlar a curiosidade. Já em miúda me questionava como é que os Punks dormem com as suas cristas ou como se assoa quem tem piercings no nariz. Mais do que decidir se acha feio ou bonito, quando se depara com estas coisas, o meu cérebro fica a ruminar nestas questões acessórias. Aposto que não sou a única.

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