
É recorrente. Sempre que alguém fala de bebés, o tema do sono, ou da falta dele, vem à baila e com uma conclusão unanime: todas as mães, a dada altura das breves vidas dos seus rebentos, já se sentiram tão exaustas das noites mal dormidas que acharam que não iam sobreviver. Algumas, vítimas da privação do sono prolongada, desenvolveram mesmo sintomas como:
– total ausência de sentido de humor
– vontade de desparecer por tempo indeterminado
– instintos homicidas para com qualquer adulto que consiga dormir, nomeadamente, o parceiro
– sonhos eróticos com almofadas e edredons em quartos escuros e silenciosos.
Durante os tempos em que vivi a privação do sono, li tudo o que era artigo com dicas para dormir melhor, na esperança de atenuar os efeitos sintomas acima descritos, os quais, no meu caso, surgiam não raras vezes em simultâneo. Aliás, houve um ano em que, depois de um período de viroses que começou em Novembro e só terminou em Março e que iam atingindo cada elemento da família à vez, estive a um clique de marcar um retiro espiritual de três dias, como o objetivo e me isolar do mundo. Infelizmente, já não tinha vagas. Noutra ocasião, fui passar três dias a Barcelona com o meu marido e acordei logo no primeiro dia a chorar porque o isolamento acústico do hotel era péssimo e eu, que tinha a expectativa de dormir bem naquelas três noites, não consegui pregar olho. Acabámos por mudar de hotel, apesar dos custos. Era isso ou um internamento na psiquiatria.
Mas dizia eu que, nessa altura, li inúmeros artigos sobre o sono apenas para verificar que, embora cheios de boas intenções, as dicas apresentadas eram sempre as mesmas e todas elas testadas por mim sem resultados:
– deitar sempre à mesma hora (se o bebé deixasse…)
– não ver televisão ou usar o telemóvel antes de ir para a cama (embora aumentar a sensação de isolamento)
– não fumar (a sério? neste estado de nervos?)
– não beber (quem escreveu isto nunca teve filhos)
– tomar um banho de imersão ao deitar (e o planeta? E o risco de adormecer e morrer afogada?)
– beber chá de camomila (placebo)
– fazer yoga (boa sorte…)
– controlar a temperatura do quarto (como se todos nós vivêssemos em casas climatizadas)
Bom, estas dicas, quando conseguimos levá-las a cabo, podem ser úteis para ajudar no processo de adormecer. Acontece que adormecer, na maior parte dos casos, não é o problema. O que uma mãe privada de sono precisa é de dicas para sobreviver a um dia de trabalho depois de várias noites a acordar de duas em duas horas. Ou para conseguir montar uma apresentação depois de três noites de febres altas. Ou para não se pegar com um familiar próximo no almoço de domingo depois de uma noite a sossegar pesadelos. Ou para deixar de ter medo de adormecer profundamente, porque custa menos a levantar se só estivermos a dormir um sono leve. Há alguma dica para isso, há?
Não. Não há. Devo dizer que a única solução definitiva para as noites mal dormidas é esperar que as crianças cresçam. Lamento, mas é a verdade. No entanto, há coisas que ajudam a tornarmo-nos um bocadinho mais funcionais no dia seguinte, nomeadamente:
– UM BLOCO DE NOTAS. Não se iludam. Uma mãe mal dormida tem de apontar TUDO, mesmo as coisas óbvias como estender a roupa ou cortar as unhas do bebé. Nesta época da vossa vida, por mais que achem que sempre tiveram uma memória incrível, não se fiem nela. Tudo por escrito, se faz favor.
– GUARNECER A CÓMODA DO BEBÉ. Porque cada minuto de sono é precioso, é importante não perder tempo quando vai ao quarto do bebé em seu auxílio. Deve por isso dispor de vários artigos que cubram qualquer eventualidade. Copo de água, biberão, chucha extra, creme porque dói o pé, creme porque dói a mão (eu usava nívea da bola para tudo, mas dizia que era uma pomada especial), Ben-u-ron, fralda, pijama, roupa de cama.
– ANTI-OLHEIRAS. É o único cosmético em que não deve poupar dinheiro nesta fase da vida. Vai fazer milagres pela auto-estima. Pode estar um caco por dentro, mas quando se olhar no espelho vai parecer uma pessoa normal.
– UM FIM-DE-SEMANA SEM BEBÉS. Essencial para reequilibrar a desordem e proteger a relação com o outro progenitor. Não tem de ser algo frequente, até porque muitas mães não têm onde deixar a criança, mas com tempo tudo se organiza. Há sempre uma tia, uma prima, uma amiga que pode ficar com o bebé uma noite. Ele vai sobreviver e a mãe vai ganhar energia para a próxima temporada de noites intermináveis.
Bem sei que estas sugestões não resolvem grande coisa e que, quem vive a privação de sono sente que está num buraco negro, literalmente sem fim. Mas acreditem, mães zombie, esta fase não dura para sempre. Respirem fundo (muitas vezes) e aguentem só mais um bocadinho. Estou com vocês.