Não vejo a minha mãe há quase sessenta dias. É a primeira vez na minha vida que estou tanto tempo sem a ver. Nunca embarquei numa viagem longa nem estudei fora, pelo que, por muito tempo que passasse, nunca passavam mais do que duas ou três semanas sem nos encontrarmos. Um lanche de sábado, um almoço de domingo, sempre aquela certeza inabalável de que, fosse qual fosse a desculpa, iríamos estar juntas. E agora passaram quase sessenta dias. E todas as certezas inabaláveis se desfizeram. E sei que ela está mesmo ali, do outro lado do rio, à minha vista se eu tivesse um telescópio. E não a posso ver. Muito menos abraçar. E o Facetime não é a mesma coisa, mas isso eu já sabia porque a minha irmã vive longe há mais de seis anos. E então só me resta escrever sobre as mães que estão longe dos filhos e os filhos que estão longe das mães, e as saudades que todos têm dos abraços, dos beijinhos, da comida, do cheiro da casa, das manias e até das discussões.
Não sei se vai tudo ficar bem, nem quando é que tudo vai ficar bem, ou se alguma vez ficará tudo bem, mas sei que o amor entre mães e filhos é uma fonte inesgotável que resiste aos dias e aos quilómetros e que, tal como os pássaros e as árvores e as flores que insistem em colorir esta primavera negra que assola os humanos, é indiferente ao que se passa lá fora. Porque no amor entre mães e filhos não existe lá fora. Só cá dentro. Dentro de nós. E por isso, não olhemos em vão pela janela. Olhemos para onde tudo cabe, onde há sempre tempo, onde nada mais importa.
Feliz dia das Mães.
Deixe uma Resposta