Categoria: poesia
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Selenofilia
Já ninguém quer ficar a ver a Lua. Erguer o queixo para se perder no infinito, pensamentos em gravidade zero, sem hora para regressar. Agora, à janela, num banco de jardim, no areal deserto, num carro em viagem, o brilho onde nos retemos vem de um pedaço de plástico, que nos impede de sonhar os…
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poema
Talvez da tua boca se soltem destroçosde um tempo em que éramos felizes. Talvez um deles sirva para me susterneste naufrágio do que fomos e me impeça de morrer de ti.
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Ode aos pais no ensino à distância
Aos que estão em teletrabalho sem abébias, aos estão em trabalho flexível e aos que estão sem trabalho. Aos que estão na linha da frente, aos que estão na linha de trás e aos que já não sabem onde estão as linhas. Aos que tiveram de comprar mais um computador, aos que cederam o seu…
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A minha Amália
A minha Amália é diferente de todas as outras. É uma Amália que primeiro ouvi pela voz da minha avó e só depois pela dela, algures na minha infância. A minha avó adorava cantar e cantava muitíssimo bem (ainda canta, apesar dos seus oitenta e sete anos e de raramente sair de casa). O fado…
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Adeus de Eugénio de Andrade
Durante a investigação que estou a fazer para o meu próximo livro, dei de caras com este poema, guardado num dos meus inúmeros cadernos. Há muitos anos que não o lia, mas por mais anos que passem continua a ser das coisas mais bonitas que alguma vez alguém escreveu.Obrigada, Eugénio de Andrade, pelo legado incomparável…
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O poeta esquecido
Uma das minhas citações preferidas é da escritora Doris Lessing, que, muito antes de atingir maior popularidade com o Nobel da Literatura, disse algo como “Algumas pessoas obtêm fama, outras merecem-na”. É que isto da fama tem muito que se lhe diga, sobretudo na sociedade hipermediatizada em que vivemos. Na maioria dos casos, os famosos…
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Um adeus português
De vez em quando fico com este poema na cabeça. Hoje é um desses dias. Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz dos ombros pura e a sombra duma angústia já purificada Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensanguentada…