O meu retiro literário terminou e com ele a angústia da escrita. Pode parecer estranho tal sentimento, mas escrever uma obra literária, embora seja fonte de incomensurável alegria e realização, é também um processo muito angustiante. No meu caso, o estado de espirito durante o processo de escrita oscila entre o “isto vai ser um livro do caraças” e o “isto não faz sentido nenhum”. Há uma história, uma estrutura e uma mensagem que quero passar, mas há também a incerteza sobre se tomei o caminho certo e se estou a conseguir passar para o leitor tudo aquilo a que me propus. É como percorrer um verdadeiro labirinto.
Em relação a esta obra que acabei de escrever, a angústia aumenta porque a ideia me surgiu em 2020 e teve de ser interrompida várias vezes, uma das quais para escrever todo um outro livro, o «E se eu Morrer Amanhã?». As personagens a que agora dei vida vivem na minha cabeça há quase quatro anos e a história podia ser contada de várias perspectivas diferentes. A questão é: será que escolhi a certa? Por outro lado, é um género diferente de tudo o que escrevi até hoje, um género necessário para contar a história, que vai apelar a todo um novo público, mas que também poderá defraudar quem está à espera de mais um romance contemporâneo sobre relações. Foi uma escolha propositada, para me desafiar e crescer enquanto escritora, mas, como em qualquer escolha, tem o seu grau de risco. E se a premissa for boa, mas a execução falhar?
Há escritores que dizem que escrevem para eles próprios e que nunca pensam no leitor. Eu, pelo contrário, penso que um bom escritor é aquele que se coloca no lugar de quem vai lê-lo, pois só assim encontra a melhor maneira de lhe chegar ao coração. Quando quero escrever para mim própria, escrevo no meu diário e não publico. Se publico, tenho de pensar necessariamente no receptor da mensagem. Faz parte do princípio básico da comunicação: emissor-mensagem-receptor. O que não significa que se escreva para agradar os leitores. Aliás, a literatura não deve agradar, mas antes inquietar, fazer o leitor reflectir sobre assuntos sobre os quais nunca se tinha debruçado, criar empatia com outras realidades, estimular a imaginação.
Enfim, o antídoto para estas dúvidas existenciais só chegará quando o livro for apreciado pela minha editora e, numa segunda fase, quando vos chegar às mãos (se tudo correr bem, em meados de 2024). Até lá, vou gozar esta espécie de alívio do regresso ao planeta Terra, depois de tantos meses com a cabeça num mundo só meu. Aproveitá-lo bem, antes que uma nova ideia se aloje e me leve outra vez para o universo paralelo da minha imaginação.

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