Na passada época balnear, falei aqui do flagelo das pessoas que ouvem música na praia como se fossem o DJ do dia em vez de usarem uns simples auscultadores, o que provocou uma acesa discussão que, quem sabe, poderá ter motivado o reforço da informação de que é proibido fazê-lo há muito tempo. Em Maio deste ano foram inúmeros os artigos de jornal que advertiram os veraneantes para as várias proibições que constam em todos os editais de praia e cujo incumprimento pode resultar em avultadas multas, incluindo ouvir música alto. No entanto, o flagelo balnear de que vos vou falar desta feita não me parece poder ser regulado por outra coisa que não seja a noção e essa, como sabem, escasseia. E que flagelo é esse, perguntam vós? A malta que abanca a dez centímetros da nossa toalha.
Compreendo que haja alguns casos em que seja aceitável alguém alapar-se mesmo ao nosso lado, sem grande consideração pelo espaço privado de cada um. Por exemplo, em praias muito pequenas, durante a maré alta, em domingos de intenso calor. Como é obvio, toda a gente tem direito a desfrutar do areal que por vezes escasseia (e vai escassear cada vez mais à medida que o nível do mar sobe, mas essa é outra questão). Quem se sente incomodado ou sofre de demofobia, pois que não vá à praia nessas alturas. Certo?
O problema é quando tal acontece em praias enormes ou pouco frequentadas. Independentemente do tamanho do areal, parece que há pessoas que simplesmente não gostam de estar sozinhas no mundo. Pessoas a quem não lhes chega o calor do Verão, procurando desesperadamente o calor humano. Pessoas que são capazes de andar mais cem metros só para abancarem mesmo ao nosso lado, como se, sem sabermos, à medida que caminham procurando um poiso, lhes estivéssemos a sussurrar no ouvido a célebre frase do Jorge Palma: encosta-te a mim.
Bem sei que o ser humano é, por natureza, social e que juntos somos mais fortes, mas uma ida à praia não tem como objetivo formar uma pequena comunidade, ainda que temporária. Diz o bom senso que se alguém se deu ao trabalho de andar umas boas dezenas de metros sob o sol escaldante, carregando chapéu, geleira e outra parafernália para uma zona da praia onde não está ninguém é porque quer, sinceramente, desfrutar do silêncio sem outros humanos ao seu lado. Infelizmente, o bom senso diz uma data de coisas que muita gente ignora.
Na verdade este tipo de pessoas, a que podemos mesmo chamar de lapas, não aparecem apenas nas praias. São as mesmas que se sentam na mesa ao lado da nossa num restaurante completamente vazio ou estendem a manta do piquenique junto a nós num relvado sem fim à vista. Também gostam de se alapar nos transportes, mesmo quando a carruagem vai vazia. E o mais engraçado é que quando, estupefactos com a sua falta de noção, nos levantamos e fugimos para outro lado, ainda nos olham indignadas, como se nós é que fossemos mal-educados. Lançam olhares de desprezo e abanam a cabeça, como quem diz “olha-me esta, deve achar que isto é tudo dela”. Pois caras lapas, se me lêem, eu não acho que seja tudo meu, até porque estamos a falar de espaços públicos. Só acho que tenho o direito de, havendo espaço para todos, não ter desconhecidos encostados a mim. O ar é de todos, mas o respeito também. Sobretudo o respeito pela distância social. Ah… belos tempos os dos dois metros entre toalhas…

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