Na literatura, como em outras artes, a equidade entre homens e mulheres ainda é uma miragem. Basta entrar numa livraria e ver quantas autoras portuguesas estão em destaque, quantas figuram nas sugestões de leitura dos jornais, quantas são nomeadas para prémios ou convidadas para falar em eventos literários. Aliás, basta pedir a alguém que nomeie cinco autores portugueses vivos e, certamente, a maioria dos nomes será de um homem. O Clube das Mulheres Escritoras quer mudar este cenário e provar que a literatura portuguesa escrita por mulheres é boa e recomenda-se.
A ideia surgiu em Março deste ano, num encontro que tive com outras escritoras com quem partilho a mesma editora. É que, apesar de publicar há vários anos, até conhecer estas mulheres meses antes, não tinha ninguém do meio com quem desabafar. Durante o processo de escrita deparava-me com dúvidas e angústias que só um autor entende. Quando o livro saía, não sabia a quem perguntar se a pouca visibilidade e o desinteresse dos Media pelo meu trabalho eram normais. Sentia-me numa bolha que não conseguia furar. Flutuava à volta do meio literário sem nunca fazer parte dele. Gritava, mas a minha voz não se fazia ouvir.
O Clube das Mulheres Escritoras foi como uma agulha que rebentou a minha bolha e a de outras 30 mulheres, que sentiam exactamente o mesmo e que pairavam por aí, sem que ninguém se desse conta. Percebi que todas tínhamos as mesmas frustrações, as mesmas lutas, os mesmos sonhos e que havia muitas mais vozes femininas na literatura do que aquelas que eu própria conhecia. Do contemporâneo, ao histórico, da fantasia ao erótico, da distopia ao terror, há todo um mundo de obras de ficção escritas por mulheres pronto para ser descoberto e, sobretudo, celebrado.
Por enquanto, o Clube materializa-se num grupo de WhatsApp onde fazemos partilhas diárias, numa newsletter onde quem nos subscreve encontra novidades, agendas e textos originais, num convívio mensal e numa página no Instagram. Ainda estamos a dar os primeiros passos, a debater estratégias para chegarmos aos leitores e espalharmos a nossa mensagem. Mas de uma coisa já temos a certeza: queremos que este seja um lugar seguro, onde podemos mitigar a solidão inerente ao acto da escrita e encontrar formas de nos entreajudarmos, mostrando que nós, escritoras portuguesas, ao contrário do que se possa pensar, estamos unidas como irmãs. Rebenta a bolha!

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Texto escrito para o JN de 26 de Junho
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