
Não tenho por hábito comentar a actualidade imediata. Mesmo quando são temas que estão na ordem do dia, gosto sempre de esperar algum tempo e reflectir antes de partilhar a minha opinião com os leitores. No entanto, as declarações da líder parlamentar do PCP, acerca da razão pela qual o partido não quer o Presidente da Ucrânia a discursar na Assembleia da República, causaram-me tal espanto que não pude deixar de vir aqui escrever umas linhas sobre o assunto.
O espanto não se deveu à posição do partido, não me julguem ingénua. É por demais evidente (e há muitos anos) que o PCP parou no tempo ali algures nos anos oitenta e por lá permanece, congelado. O espanto deveu-se, sim, ao indisfarçável mal-estar de Paula Santos, que durante longos e dolorosos minutos tentou convencer-nos (e convencer-se!) de que acreditava nos argumentos que apresentou em nome do seu partido. Fez-me lembrar aqueles exercícios de debate que se fazem na escola, em que o professor escolhe um tema muito polémico, como o aborto por exemplo, e os alunos, sem poderem escolher o lado que querem defender, têm de apresentar argumentos a favor ou contra, independentemente da sua posição ou crença pessoal. Se eu fosse o professor, Paula Santos teria chumbado.
Para o PCP, dar voz ao Presidente de uma nação que está a ser invadida e massacrada é não contribuir para a paz. Aplicar sanções e repudiar os crimes de guerra cometidos pelo invasor é não contribuir para a paz. Porque a paz só chegará se ninguém irritar o grande Putin, depreendo. Ora, eu respeito as convicções de cada um, mas não consigo respeitar quem milita cegamente em nome de uma ideologia, não parando para pensar sobre o assunto pela própria cabeça, ou que parando, não tenha a coragem de se demarcar do absurdo. Seja a Paula Santos, seja quem for que esteja no Comité Central do partido a tomar decisões. O que não contribui e jamais contribuiu para a paz é a ideologia sobrepor-se à humanidade.