
Nos últimos meses, ou melhor, no último ano e meio, o mundo voltou a sua atenção para a luta contra a Covid19. Notícias alarmantes, que nos fizeram ficar fechados em casa; notícias empolgantes, que nos deram esperança num regresso à normalidade; notícias sobre economia, desemprego e recuperação. Os cientistas uniram-se como nunca antes por uma causa comum; os governos arranjaram verbas para as vacinas e traçaram planos de vacinação eficientes; as pessoas aceitaram a evidência de que tinham de fazer um esforço e mudar o seu estilo de vida para travar a pandemia. Ou seja, mostrámos todos que é possível criar novos hábitos, fazer diferente e inédito, quando a prioridade é salvar a humanidade. E, no entanto, continuamos a ignorar a maior ameaça à nossa espécie e a todas as outras: as alterações climáticas.
Só no último mês (sim, trinta míseros dias!) tivemos:
- Cheias na Europa central, com consequências gravíssimas: 170 mortos na Alemanha, 31 na Bélgica, milhares de feridos e desalojados também na Itália, Áustria e Suíça
- Cheias na Índia, que provocaram 178 mortos e 4300 deslocados
- Cheias na no centro da China, após as maiores chuvadas dos últimos sessenta anos
- Chuva torrencial no Japão, que criou um “tsunami” de lama
- Os piores incêndios na Europa desde 2008, atingindo sobretudo a Turquia, Grécia, Itália e Russia
- Pior onda de calor na Grécia dos últimos 30 anos
- A Califórnia a arder desde o início de Julho, com temperatura de 54ºC no Vale da Morte
- Recordes de temperatura no Canadá (49,6ºC), na Rússia e até na Lapónia, onde chegou aos 33,6ºC
Isto tudo a acontecer ao mesmo tempo em diferentes pontos do globo, fora o resto que não nos chega pelos Media. Notícias que quase deixam de ser notícias porque começam a acontecer com tanta frequência que parecem fazer parte do quotidiano, coisas normais. Já reviramos os olhos a tais desgraças, como reviramos à notícia de mais um barco de migrantes naufragado ou mais um bombardeamento na Síria. Como se não fosse nada connosco.
Mas isto é connosco. Somos nós que temos de pressionar os nossos governos para que ajam com tanta rapidez nas questões climáticas como agiram no combate à pandemia. Ninguém olhou a lobbies, nem a restrições, nem a limitações de liberdades individuais, nem a legislação de emergência. Os governos agiram com firmeza, fizeram o que tinha de ser feito para salvar vidas e a economia. Então, por que será que fingem ser difícil cumprir os acordos climáticos, mega conservadores e pouco ambiciosos que rectificaram?
É imperativo que os países desenvolvidos do hemisférios norte tracem planos concretos para baixar as emissões de carbono. Que ajudem os países subdesenvolvidos, que são quem menos polui e mais sofre com as consequências das alterações climáticas, nomeadamente com secas severas e fome. Que reconheçam a importância da biodiversidade e das comunidades indígenas, tratando o ecocídio como um crime internacional severamente punível.
É imperativo apoiar a reconversão da indústria, financiar soluções tecnológicas verdes, legislar sem medo. Enquanto indivíduos, também podemos fazer pequenos gestos, poupando recursos, reciclando, adoptando modos de vida mais sustentáveis. Mas serão sempre gestos pouco impactantes no panorama geral. É preciso mais. É preciso tudo. Porque o tempo não pára e o desastre é iminente. Basta ver as notícias sem revirar os olhos.
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