
O campeonato Nacional de Futebol arranca esta sexta-feira com os estádios vazios. Bancadas desertas, enfeitadas com cachecóis e bandeiras que ninguém agita, sem público, sem palmas, sem gritos, sem muito daquilo que torna o jogo apaixonante. Foi nesses moldes que terminou o campeonato anterior, compreensível porque estávamos a sair do confinamento e era preciso pensar num modelo seguro. Porém, três meses volvidos, a DGS considera que os estádios devem continuar fechados para todos os portugueses, excepto os que ocupam cargos governativos ou de estado.
Sou das pessoas mais conscientes e preocupadas com a pandemia, acreditem. Tirei os meus filhos da escola dias antes destas fecharem, usei máscara mesmo quando a DGS dizia que não era necessário, acato as regras com compreensão e respeito por quem tem de inventá-las de um dia para o outro e sobre quem recaem todos os olhares e dedos apontados. No entanto, não consigo compreender porque é que os estádios de futebol e outros eventos desportivos não podem ter público mas os eventos políticos, religiosos, culturais e até eventos bárbaros como as touradas podem.
Tal como as salas de espectáculo, os estádios têm cadeiras e lugares marcados, mas com a vantagem de que são descobertos. Há espaço de sobra para ter público separado por três filas se preciso for e muitas portas para cumprir com os circuitos de entradas e saídas. Podiam proibir as roulottes no exterior, as bancas de venda ambulantes e sobretudo as claques (era um favor que fariam à humanidade). Podiam até vedar as filas mais perto do relvado, proibir tarjas e bandeiras, reduzir a capacidade para 30%. Podiam tanta coisa que não fosse manter os estádios completamente vazios.
Faz lembrar aquela outra decisão de permitir a abertura de parques aquáticos (o Zoomarine e o Slide and Splash estiveram abertos todo o Verão), mas proibir a abertura de espaços infantis com arvorismo, insufláveis e carrosséis, igualmente ao ar livre. Qual é a justificação? Afinal a àgua mata o bicho? Ou o bicho não gosta do Algarve? Alguns podem estar abertos durante a semana mas não ao fim-de-semana. Porquê? O bicho só trabalha de segunda a sexta?
Mas voltando ao futebol, a melhor declaração sobre o assunto veio de alguém com quem, por ser eu benfiquista, raras vezes concordo. Em declarações ao jornal “O Jogo”, Jorge Nuno Pinto da Costa disse que «só por incompetência é que se pode permitir, como agora em Santarém, uma praça de touros cheia, ou espetáculos em recintos fechados lotados e, nos estádios, nem sequer pessoas nos camarote.» E a propósito da notícia de que António Costa integra a comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica (nem vou comentar a promiscuidade, vinda da mesma pessoa que há quatro anos disse que os ministros “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar de que são membros de um governo”) Pinto da Costa afirmou ainda que «para Luís Filipe Vieira, não será benéfico ligar a sua candidatura ao apoio de António Costa. E explico: arrisca-se a que o António Costa fique na história como o homem que asfixiou os clubes de futebol e matou as outras modalidades.»
Querer público nos estádios e noutros recintos desportivos, não tem que ver com clubismo ou com o facto de, pessoas como eu, estarem em pulgas para poder voltar a ir à bola. Tem que ver com equidade, algo que tem faltado em muitas das regras impostas desde o início da pandemia, beneficiando uns sectores e aniquilando outros. Vai ser preciso fechar, limitar, restringir espaços e actividades nos próximos tempos? Sim, claro, têm todo o meu apoio. Mas façam-no com critério e coerência, se faz favor.