Agora a sério, digam o que disserem, a coisa de que as mulheres mais sentem saudades nesta quarentena é de ir ao cabeleireiro. Certo, meninas? Claro que sim. Se eu, que apenas entro num de três em três meses para cortar, eu que não pinto, não faço madeixas, não estico, não ponho extensões, nem faço tratamentos, estou quase a subornar o “meu” Peter para abrir o salão clandestinamente a meio da noite para me atender, imagino as mulheres que passam lá a vida. As que retocam as raízes a cada três semanas, as que não gostam de lavar o cabelo em casa, as que, qual Sansão, têm no cabelo a sua força, fonte inesgotável de auto-estima. Aposto que estão a chorar em posição fetal, como se lhes tivessem arrancado um membro. E com razão.
É que para as mulheres, o cabeleireiro é um serviço tão essencial como o supermercado ou a farmácia. E não é justo que só a Dr.ª Graça Freitas tenha direito ao seu, sempre impecável nas conferências de imprensa. Não é uma questão de futilidade, é uma questão de dignidade.
O cabeleireiro é um espaço onde podemos cuidar do visual e dar asas à nossa vaidade, mas é também um espaço onde se cuida da alma. Durante uma hora ou duas temos alguém que nos ouve, que nos aconselha e, acima de tudo, que tem como missão fazer-nos sentir bonitas, confiantes, invencíveis. Muitos cabeleireiros são praticamente psicólogos, acreditem, que sabem quando nos apetece falar ou quando queremos apenas fechar os olhos e aproveitar o não fazer nada, o não estar para ninguém. Advinham os nossos humores, sabem o que nos fica bem e muitos ainda nos massajam o escalpe durante a lavagem sem cobrar mais por isso. E agora, quem vai cuidar de nós? Literal e figurativamente? Quem???
No meu caso concreto, o desespero chegou há duas semanas, quando olhei para a agenda e li uma nota que tinha escrito em Janeiro: “marcar Peter”. Pois. Já não deu. Com o prolongar do estado de emergência e dos centímetros da minha melena, comecei a hiperventilar e cheguei àquele momento trágico em que não consigo ver-me ao espelho sem gritar de medo. Não pensem que exagero. Só uma mulher conhece o desespero de embirrar com o seu cabelo ao ponto de, independentemente do que fizer, lhe parecer que está sempre mal, sem jeito, sem forma, sem vida. E mesmo que toda a gente à sua volta (o que neste caso não serão mais do que duas ou três pessoas) lhe diga que está óptimo, só ela sabe a verdade. E a verdade é que não tem ponta por onde se lhe pegue.
Deparei-me, assim, com duas opções: rapá-lo ou cobri-lo. A primeira opção é decididamente drástica, se bem que apetecível e, estando eu habituada a usar o cabelo muito curto, não tão difícil de levar a cabo. Estive quase a sucumbir à tentação, especialmente depois de pegar na máquina e rapar o cabelo do meu marido e do meu filho… Porém, antes de optar por um caminho tão radical, decidi experimentar a segunda opção. Cobrir a guedelha. Primeiro ponderei fazê-lo com um gorro, o que se afigurou demasiado quente e um bocado mitra, sobretudo quando combinado com o look leggings e sweatshirt que se tornou traje habitual nestes tempos de confinamento. Depois lembrei-me dos lenços, e tenho tantos, cortesia dos tempos em que tinha uma enorme cicatriz no pescoço que tinha de estar protegida.
Só que usar um lenço na cabeça tem que se lhe diga… Se o usar à pirata, pareço um matraquilho (sim, não tenho um metro e setenta e longos cabelos reluzentes a cair elegantemente pelas costas). Se o usar à saloia, pareço mesmo isso, uma saloia, sobretudo nestes tempos em que os únicos acessórios que uso são a esfregona e o balde. Então, como colocar um lenço na cabeça sem afugentar o único adulto com quem ainda posso conviver (leia-se, o meu marido)? Bem sei que ele já me viu nas piores figuras da vida, desde noites de farra que acabaram com um abraço à sanita, até ao pós-parto, mas ainda assim há mínimos. Ele também rapou o cabelo antes de lhe começar a nascer um mullet, pelo que merece um pouco mais de esforço da minha parte.
Lancei-me então à desconcertante tarefa de usar um lenço na cabeça todo o dia sem fazer má figura. Depois de variadas experiências e tutoriais do Youtube, eis que encontrei a solução. Aliás, duas! Duas maneiras de usar um lenço na cabeça e sentir-me bonita. Decidi partilhá-las em vídeo porque fizeram enorme sucesso entre os meus fãs (leia-se os meus filhos e as seis ou sete pessoas com quem falo por Facetime) e sei que poderão ajudar todas as mulheres que neste momento desesperam pela notícia de que os cabeleireiros vão reabrir. Aguentem-se, senhoras! Estamos juntas!
Look Diva, porque posso não sair de casa mas mereço sentir-me uma:

Look Carmen Miranda, porque nos tempos que correm o que se quer é alegria:

Divirtam-se!