A melhor analogia que me ocorre para descrever a tarefa de criar um filho é um videojogo. Começamos devagar com um pequeno ser que não faz outra coisa senão comer, dormir e sujar fraldas, e o trabalho vai aumentando, aumentando até gastarmos todas as nossas vidas e no ecrã surgir um Game Over, que é como quem diz, a hora da nossa morte. Mas não é esta a única semelhança entre a maternidade e o entretenimento virtual: cada nível é progressivamente mais difícil do que o anterior, de modo a manter a emoção e trocar-nos as voltas quando achamos que já estamos a controlar a situação. Senão vejamos.
Primeiro nível – dos 0 aos 3 meses
Neste primeiro nível o bebé em si não dá muito trabalho. Aliás, passa mais tempo a dormir do que acordado, é bastante portátil e a única coisa mesmo difícil para as mães é o não dormir mais de quatro horas seguidas. A não ser que o bebé sofra de cólicas, o que faz com que esta fase pareça um filme de terror.
Segundo nível – dos 3 aos 6 meses
Quando finalmente nos habituamos ao ritmo, às tarefas diárias, à ausência de vida social, o bebé começa a regular o sono da noite mas a revelar inúmeras outras maneiras de nos manter atarefadas durante o dia, até porque ainda não sabe fazer nada sozinho, incluindo sentar-se a brincar. Também pode dar luta na introdução dos alimentos sólidos.
Terceiro nível – dos 6 aos 12 meses
Começa o desassossego dos dentes (há bebés que sofrem com cada um deles) em simultâneo com a aventura de gatinhar, que nos leva a andar sempre atrás deles para ver se não trepam por um móvel acima. Esta fase corresponde também à entrada nos infantários, ou como os pediatras chamam, os infectários: viroses, constipações e noites horríveis para os pais. Mesmo a terminar o primeiro ano de vida vêm os primeiros passos, que é como quem diz os primeiros galos na testa, bibelôs partidos e umas enormes dores nas costas para quem tem de andar dobrado a agarrar nas mãozinhas do pequeno ser.
Quarto nível – dos 12 aos 24 meses
Quando eles já andam sozinhos inicia-se a maravilhosa descoberta do mundo: tomadas eléctricas à medida dos seus dedinhos, telemóveis e outros objectos de valor atirados para dentro da sanita, saltos, cambalhotas e uma enorme atração pelo abismo, seja ele uma estrada cheia de carros ou um vão de escadas. É neste nível que as mães descobrem que têm cinco pares de olhos e superpoderes para antecipar cada perigo.
Quinto nível – dos 2 aos 3 anos
Chega o segundo ano de vida e com ele a emocionante aventura de largar as fraldas (incontáveis lençóis e resguardos serão lavados) e de comer sozinho (aconselho a removerem os tapetes debaixo da mesa de jantar). Mas a minha fase preferida neste nível é o desenvolvimento da arte da argumentação de uma mãe ou como convencer uma criança desta idade que não pode ir de calções de banho para a rua em Dezembro.
Estão a ver a ideia?
Pois muitos mais níveis existem, alguns com designações célebres como “idade dos porquês” ou “fase do armário”, mas acho que com estes já dá para chegar ao âmago desta lição: tal como num videojogo, não desejem que «esta fase passe depressa» porque a seguinte é sempre mais difícil e lá diz o ditado «filhos criados, trabalhos dobrados». Entrem em cada nível com a determinação de aproveitar todas as coisas boas que tem, pois mesmo as mães mais pessimistas sabem que essas coisas boas suplantam por larga margem todas as coisas más.
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