Por vezes, os artistas queixam-se muito.
Sejam pintores, escritores, actores ou músicos, há uma tendência generalizada para o queixume.
Queixam-se de que ninguém lhes liga, de que não têm oportunidades, de que não ganham prémios, de que são ignorados pela comunicação social, de que não são convidados para eventos, de que não conseguem nenhuma bolsa, de que são mal pagos, de que o seu meio é demasiado fechado, de que só se safa quem faz parte do sistema.
Comparam-se com os outros: os que têm projecção e salas cheias e oportunidades únicas e amigos influentes e, inevitavelmente, o apelido certo. Ficam ressabiados, porque se acham melhores, mais talentosos, mais disruptivos, mais originais. Ficam frustrados, porque investiram horas a produzir algo que passou ao lado de toda a gente. Ficam zangados com quem ignora a sua arte, preferindo coisas básicas, já vistas ou alinhadas com as tendências das redes sociais.
E o pior é que, na maior parte das vezes, os artistas têm razão. Muito daquilo de que se queixam é verdade, e quanto mais se conhece cada um dos meios artísticos, melhor se percebe como funcionam as coisas. A história está cheia de talentos incríveis que morreram na miséria, bem como de pessoas sem talento que se tornaram célebres e viveram coroadas de glória e de dinheiro. É o que é.
Perante isto, o artista tem duas opções: ou desiste do sonho inglório e vai arranjar um trabalho que lhe pague um salário certo ao final do mês, dedicando-se à arte nos tempos livres; ou persiste, contra ventos e tempestades, injustiças e desilusões. Persiste, mesmo sabendo que o seu trabalho poderá não ser visto, muito menos apreciado. Persiste, ignorando o que os outros fazem, ou ganham, ou celebram.
O que define um verdadeiro artista é o seu modo único de ver o mundo e de traduzi-lo para os outros, através da sua arte. A maneira como cria pontes, inicia diálogos, desperta emoções. Não é o número de seguidores, prémios ou algarismos na conta bancária.
E é claro que todos sabemos que, sem visibilidade, não há como viver da arte, e que os prémios e os eventos abrem muitas e determinantes portas. E é claro que é importante que quem está de fora critique o sistema, até porque a história mostra que os sistemas não mudam por dentro. Deve haver quem aponte as falhas, denunciando os feudos e desafiando o status quo. Porém, é ainda mais importante apresentar caminhos alternativos. Arregaçar as mangas e tentar fazer diferente, rasgar na parede uma nova porta, em vez de ficar pelos cantos, publicamente ou em privado, a choramingar acerca das injustiças, mendigando a atenção do mesmo sistema que tão ferozmente critica.
Se por cada queixume der mais uma pincelada, escrever mais um parágrafo, ensaiar mais um bocado, continuará a crescer. Tornar-se-á melhor artista e, consequentemente, terá mais ferramentas para mudar o que deve ser mudado. E ainda que a mudança não aconteça, estará a fazer o seu caminho, sólido e independente, aprendendo a viver com o facto de que a vida não é justa, e ninguém lhe deve nada, muito menos reconhecimento.

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