Se há um ano e meio me dissessem que eu ia inventar um clube que reune mulheres escritoras portuguesas, e que esse clube tornar-se-ia num movimento maior do que tínhamos imaginado e seria nomeado para um prémio, eu não acreditaria. Mas foi precisamente isso que aconteceu.
Aquilo que era para ser apenas um encontro informal com outras autoras no jardim da Gulbenkian, para discutirmos formas de dar mais visibilidade à Literatura escrita por mulheres, bem como partilharmos ideias sobre processos de escrita, graças ao entusiasmo de cada um dos membros que foram chegando, cresceu e cresceu, quase ganhando vida própria.
Ao fim de um ano e meio, eis o resultado do nosso trabalho, roubado às poucas horas que temos para escrever e para todos os outros afazeres:
- uma página no Instagram com mais de 40 mil visualizações por mês;
- uma newsletter com mais de 3 mil leitores fiéis, e que é enviada quinzenalmente. A primeira do mês com a agenda das escritores, eventos, entrevistas dadas e sugestões de livros. A segunda com pequenos textos inéditos de algumas das autoras do clube. (Podem subscrever AQUI);
- um site que é também um directório de autoras portuguesas, com as suas biografias e bibliografias;
- conversas literárias mensais na livraria Almedina do CCB, sempre com autoras diferentes e com temas que vão do romance histórico às distopias (a próxima é este sábado dia 19 às 16H);
- presença do colectivo na Feira do Livro de Lisboa e na Festa do Livro de Belém quer em 2023, quer em 2024, com plateia cheia e muito entusiasmo dos leitores;
- uma apresentação muito aplaudida na conferência Book 2.0 (que pode ser vista AQUI);
- uma revista de edição limitada com textos maravilhosos e inéditos de 20 autoras do clube sobre o tema MULHER, e que vai ter um segundo número em Março de 2025.
E agora estamos nomeadas para o prémio da revista Mais Alentejo, na categoria Mais Iniciativa e Inovação! (Se quiserem votar, podem fazê-lo AQUI.)
De todas estas coisas incríveis que temos feito juntas, aquela que mais me enche o coração é mesmo ter conhecido as mulheres que compõem este colectivo. Mulheres com quem criei relações únicas e algumas amizades que tenho a certeza de que me acompanharão por muitos anos. Somos todas muito diferentes, escrevemos em géneros e estilos diferentes, temos vidas e experiências diferentes, mas no final, quando é para arregaçar as mangas e pôr mãos à obra, partilhamos o mesmo entusiasmo e vontade de abrir novos caminhos e oportunidades para todas as mulheres que escrevem. Ou como dizia Virginia Woolf, num dos livros que não me canso de citar, «Um Quarto Só Seu»:
«Disse-vos ao longo deste ensaio que Shakespeare tinha uma irmã. (…) ela morreu jovem – infelizmente nunca escreveu uma palavra. (…) Ora, estou em crer que esta poeta, que nunca escreveu uma palavra e que foi enterrada num encruzilhada, continua a viver. Vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão a lavar pratos e a deitar os filhos. (…) Acredito que se vivermos mais um século e se cada uma de nós tiver quinhentas libras por ano e um quarto só seu; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exactamente o que pensamos; se escaparmos um pouco da sala de estar comum e se virmos os seres humanos não apenas na sua relação uns com os outros mas em relação com a realidade, (…) então a oportunidade chegará e a poeta morta que foi a irmã de Shakespeare vestirá o corpo que em tantas camas deitou. (…) Defendo que ela virá se trabalharmos por ela, e que trabalhando assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a pena.»
É que vale mesmo. Obrigada a todos os que nos seguem e apoiam.

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