Portugal é um país cada vez mais pobre. A ilusão de pertencermos à elite europeia há muito se desvaneceu, sobretudo depois de um governo PS, que nos empurrou para as mãos da Troika e que persiste nas mesmas políticas que impedem o país de crescer. Nos dias que correm, tirando nos preços das casas e da hotelaria, estamos sempre nos últimos lugares de todas as tabelas.
Portugal é um país cada vez mais pobre. Os salários são baixos, a roçar o miserável, sendo o mínimo insuficiente para colocar comida na mesa, e o médio pouco acima dos mil euros. Aliás, no outro dia, o meu marido teve uma reunião de trabalho com alemães e quando lhes disse qual era o ordenado médio em Portugal eles acharam que se estava a referir ao valor por semana. Teria graça se não fosse tão trágico.
Sim, Portugal é um país cada vez mais pobre, e os mais pobres dos pobres continuam a ser as mulheres. Quase 70% das trabalhadoras ganham menos de mil euros brutos (por mês, senhores alemães!). São elas que representam a maioria dos desempregados, a maioria que recebe apenas o salário mínimo e a maioria com vínculo de trabalho não permanente.
Os dados dos homens não são muito mais animadores (63% ganham menos de mil euros), mas as mulheres, como se sabe, além do emprego por conta de outrém, ainda têm aquele trabalho invisível que se chama cuidar da casa, dos filhos e dos pais. E, por isso, estão sempre mais sujeitas a variados tipo de abuso.
Abuso laboral. Por medo de perder o emprego, por mais precário que seja, as mulheres sujeitam-se aos horários excessivos, às más condições e, por vezes, ao assédio, não necessáriamente sexual, mas moral, que é igualmente devastador.
Abuso conjugal. Milhares de mulheres mantêm-se em relações tóxicas ou abusivas porque não têm para onde ir. Era algo que acontecia antigamente, quando não trabalhavam e dependiam financeiramente dos pais e depois dos maridos, mas que hoje, num tempo que se diz de liberdade, se perpetua. Uma mulher que ganhe menos de mil euros brutos, mesmo que queira sair de casa, sobretudo se tiver filhos e quiser levá-los consigo, não consegue. Tem de ficar e aguentar uma relação que, mesmo não sendo abusiva, não a faz feliz. Se há casais de classe média que não se falam, mas continuam a viver na mesma casa por motivos financeiros, o que será dos outros? É verdade que o direito ao divórcio está há muito consagrado. Porém, é um direito que se está a tornar um privilégio.
Abuso mental. Estas mulheres não podem estar bem. São pessoas que não têm tempo para nada, muito menos para si. Por muito que se apregoe a importância da saúde mental, são mulheres que não têm dinheiro para ginásios, massagens ou consultas de psicologia. Não têm uma hora para a leitura ou para caminhadas na natureza. Alimentam-se de sanduíches e pacotes de sumo, correm entre dois ou três empregos e dormem sempre mal.
Qual a repercussão destes abusos no corpo das mulheres? Que doenças evitáveis irão desenvolver? Que preço iremos pagar, enquanto Sociedade?
Custa-me aceitar que são estas as mulheres do meu país. Pelo menos, 70% das mulheres do meu país. Já não andam descalças, já não são analfabetas, já não morrem no parto, como nos tempos do registo corajoso de Maria Lamas que dá título a este artigo. No entanto, estão igualmente limitadas pela sua condição. Hoje é dia 8 de Março, Dia da Mulher. Lembremo-nos delas e do tanto que ainda há que fazer.

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