Estive três vezes na República Dominica. A primeira em 1996, a segunda em 2009 e a terceira em 2022. Nunca mais lá ponho os pés. É que, nas primeiras vezes, encontrei um país pobre mas genuíno, com dominicanos sorridentes, excursões a lugares exóticos bem preservados e, claro, preços muitos apelativos para os turistas europeus. Desta última vez, encontrei a americanização total do turismo, dominicanos trombudos (alguns a roçar o mal-educado), todos os lugares exóticos transformados num circo com música alta, turistas aos magotes e preços exorbitantes. Só para terem uma noção, fui a um banco de areia onde era suposto haver estrelas-do-mar (havia dezenas delas em 1996), para encontrar apenas areia e pina-coladas servidas em ananases ao som de um belo Regatton, que faria fugir o mais corajoso dos peixes (se os houvesse). Também fui a uma quinta típica dominicana, que afinal foi construída só para o turista, onde estava um senhor a enrolar charutos e outros a tentarem vender coisas que obviamente não foram feitas ali e onde até havia uma piscina com uma gruta mas totalmente artificial, tão falsa como aquelas que encontramos nos parques aquáticos.
Há quem goste desse tipo de turismo, o mesmo que se encontra na Riviera Maia e outros sítios que tais, promovido pelas mesmas cadeias de hotéis e grandes grupos hoteleiros, que torna indiferente o país onde estamos, porque é tudo absolutamente igual e barulhento e caro. Mas eu, pelo contrário, quando viajo, gosto de estar exposta à cultura local, ir a uma feira ou mercado, comer em restaurantes onde comem os nativos, descobrir locais turísticos, claro, mas bem preservados e com respeito pelas comunidades que sempre lá estiveram. E é isso que distingue o turismo de qualidade do turismo de massas.
O propósito desta crónica não é dizer mal da República Dominicana só porque sim, mas antes fazer um alerta a quem vive do turismo em Portugal. Ao andar por Lisboa e por outros lugares turísticos do nosso país, começo a achar que também nós estamos a transformar tudo num circo para americanos e outros povos apreciadores do entretenimento e dos eventos de massas. Se olharmos apenas pelo ponto de vista de um turista, esquecendo o peso e a revolta que a gentrificação nos faz sentir, o que daria pano para outra crónica, temos o país dividido entre Lisboa e Porto, com hotéis ou alojamentos locais prédio sim, prédio sim, lojas feitas para estrangeiros e monumentos cujos bilhetes não conseguimos comprar, e as zonas balneares com apoios de praia que parecem discotecas, as tabuletas estão em inglês e empregados que não falam a nossa língua. Safa-se o interior. Por enquanto.
Será cada vez mais difícil para um turista que visita Portugal conseguir comer onde os locais comem, porque os locais já só comem em casa e, em breve, teremos manjericos de esferovite às janelas onde não vive ninguém. Por falar em manjericos, ouvi dizer que no Stº António houve quem cobrasse 5 euros por uma sardinha, o que é ainda “very cheap” para o camone, mas insustentável e ridículo para o tuga que sabe quanto custa um quilo da mesma. Também parece que criaram um Santódromo a fazer lembrar o Sambódromo, não sei se por causa dos brasileiros que já são mais do que as mães, ou se porque bom, bom é transformar tudo num negócio, mesmo aquelas coisas que sempre foram de graça como, assistir a um concerto pimba num arraial dos santos.
Não estou contra o turismo. Estou é contra um turismo de vistas curtas, que só se interessa pelo lucro fácil e rápido, sem dois dedos de testa para pensar no que isso implica para as cidades, monumentos e paisagens que convidamos os turistas a conhecer. Estou contra um turismo que, num futuro não muito distante, fará com que os portugueses, como aconteceu com os dominicanos, deixem de ser um povo sorridente e hospitaleiro, comecem a virar as costas a qualquer pessoa que se lhes dirija numa língua estrangeira e a desaparecer dos locais mais visitados. Um futuro em que tudo é falso e barulhento e as cidades todas iguais. Nessa altura, perdido o charme do “very typical” e as pequenas coisas que nos tornam tão diferentes de todos os outros (até dos nossos vizinhos do lado), disparando os preços para valores que deixam de ser “very cheap”, quem nos quererá visitar?

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