Há uma história que se conta acerca das diferenças culturais entre americanos e portugueses. O americano vê o vizinho num carro novo e pensa: “Ena, tem um carro novo, deve ter trabalhado bem para isso”. Já o tuga, pensa: “olha, olha aquele chico-esperto com um carro novo, deve andar a traficar droga ou a roubar alguém”.
Sim, o tuga é invejoso por natureza. Não sei de onde vem tamanha tacanhez, mas a verdade é que muitos portugueses não perdem a oportunidade de desdenhar quem tenha algum tipo de êxito, seja pessoal ou profissional. E pior, tenta relativizar sempre a dimensão do mesmo. “Não percebo porque é que lhe acham tanta graça”, “não é assim tão gira”, “foi promovido? grande coisa!”, “qualquer pessoa faz aquilo”, “melhor do mundo? Não acho nada”.
Podia ficar aqui um dia inteiro a citar exemplos de portugueses massacrados diariamente por este odioso sentimento, ainda por cima destilado dos seus compatriotas, mas prefiro apenas falar de mim, que nem sequer sou assim tão conhecida, nem bem sucedida.
É incrível o número de hienas que estão lá em baixo, na base da árvore do meu sucesso, à espera que eu caia. São as hienas que andam sempre a vigiar, ansiando por um passo em falso. São as hienas que nunca me congratulam por um novo feito e que, confrontadas com o mesmo, se saem com um desdenhoso “ah, é verdade, lançaste um livro não foi?”, como se fosse a coisa mais banal do mundo. Top 100 da Amazon? Grande coisa. Agora tem a mania que é escritora. Olha para ela, armada em boa, a partilhar fotografias dos programas onde esteve. Só programas foleiros, claro. De certeza que anda a escrever no trabalho. Só pode. Como é que ela tem tempo, com dois filhos? Ou então paga a alguém para escrever por ela. A vaca, que nem amamenta os filhos. E feia, ainda por cima.
Pois, a inveja…
Desde cedo que tive de lidar com ela. Primeiro porque a minha mãe me vestia bem demais (pindérica, vaidosa), depois porque os meus pais tinham lojas conhecidas (tem a mania que é rica) ou porque era uma aluna interessada e todos os professores gostavam de mim (graxista). Daí que também cedo tenha aprendido que o melhor a fazer é continuar a subir, sem olhar para baixo, mesmo correndo o risco de ver a minha determinação e auto-confiança confundida com altivez. Azar. Nunca fui indelicada, nunca pedi favores, nunca usufruí de qualquer vantagem. Tudo o que conquistei foi por mérito próprio, fruto do meu trabalho e das minhas horas sem dormir. Porque quando se faz o que se gosta, encontra-se tempo para tudo. Tempo, imaginação e vontade.
A inveja…
A inveja corrói e não é por acaso que é considerada um dos pecados mortais. Alimenta-se de todas as inseguranças e medos de falhar. Cega-nos até deixarmos de ver a mais clara evidência: o sucesso dá muito trabalho e há quem arregace as mangas e avance sem medo, procurando todos os dias fazer mais e melhor, e quem fique a ver a vida a passar.
Por isso, aos invejosos, digo apenas isto: continuem a roer-se. Roam-se até não terem dedos, até não terem língua para espalhar o vosso veneno. Pretendo continuar a dar-vos bastantes motivos para o fazerem.

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