É só um jogo

Este sábado joga-se uma partida de futebol que vai praticamente decidir quem será o campeão nacional. Há muitos anos que não vivíamos um final de campeonato tão renhido, e sendo a disputa entre os eternos rivais lisboetas, as emoções estão ao rubro.

O Sporting teve um início de campeonato magnífico e a meio do mesmo chegou a estar com doze pontos de avanço sobre o segundo classificado. Conta com um melhores goleadores da sua história e na jornada passada virou o jogo no final, mostrando que desistir não é uma opção. O Benfica teve um início de campeonato desastroso, e no último terço chegou a estar na liderança, estando agora com os mesmos pontos que a equipa de Alvalade. Tem exibições incríveis e outras que deixam os adeptos a revirar os olhos de frustração, mas o que é certo é que está na disputa até ao fim. Ambas as equipas mudaram de treinadores, perderam jogos supostamente fáceis, ganharam outros supostamente complicados, enfim, é difícil prever o desfecho, pois em futebol tudo pode acontecer até ao apito final.

Eu sou benfiquista, como muitos de vocês sabem. Não só benfiquista, mas sócia com lugar cativo desde os idos anos 90. Pelo Benfica, já sorri, já sofri, já discuti com bons amigos, já me abracei a desconhecidos, já chorei de alegria, raiva e tristeza. Também já fui mais fanática do que sou. Penso que os anos e a maternidade me deram uma perspectiva muito diferente do que realmente importa. Já não fico dias e dias a remoer num lance. Aliás, já nem sequer fico várias horas. Mas estou lá em quase todos os jogos, faço chuva ou faça sol, e lá estarei amanhã também.

Mas o ponto desta crónica não é bradar o meu benfiquismo. É pedir a todos os adeptos que se portem bem. Claro que há sempre provocações de lado a lado, cânticos insultuosos, escolta policial. Mas há limites para a alarvidade. Ninguém morre se a sua equipa perder. Ninguém vai salvar crianças da fome se a sua equipa ganhar. Tirando os clubes e os jogadores, ninguém ganha dinheiro com a conquista do campeonato, nem vai poder acrescentar o feito ao seu currículo. É verdade que os vencedores poderão gozar de uns dias de bazófia. Irritar aquele colega de trabalho com um meme, mas malta: é só um jogo. Um jogo incrível, que suscita grandes paixões, que nos transforma durante 90 minutos e faz disparar o coração, mas que, ainda assim, é só um jogo. Não é suposto haver confrontos, pedradas, pancadaria. Não é suposto zangarmo-nos e destilarmos ódio, como tão bem fazem as claques.

Amanhã vou ao Estádio da Luz na esperança de que a minha equipa conquiste a vitória. Vou vestida de vermelho e branco, vou cantar que o Benfica é o amor da minha vida, vou cheia de nervoso miudinho, vou dizer muitas asneiras. Mas vou sobretudo na esperança de ver um grande jogo de futebol. E se o Benfica perder o campeonato em casa (infelizmente não seria a primeira vez), vou sair de lá cabisbaixa, vou dizer mal do treinador e dos jogadores e do árbitro também. E depois vou dormir, encolhendo os ombros, porque por muito bonito e apaixonante que o futebol seja, será sempre apenas um jogo.