A nova trend das redes sociais é um chocolate com recheio de pistachio, supostamente maravilhoso, e que chegou na última semana a Portugal. Chegou e desapareceu, com o saque a todos os estabelecimentos que o vendiam foram sujeitos, perpetrado por milhares de jovens que tinham mesmo de o provar e fazer o seu vídeo da praxe, com unboxing e prova, super editado e com a música escolhida a dedo pelos influencers do momento.

A coisa tomou proporções tais, que nos supermercados onde os chocolates ainda chegam, há que colocá-los naquelas caixas de plástico com alarme. Noutras lojas, diz logo à porta que aquele chocolate específico está esgotado, evitando assim que jovens ansiosos entrem pela loja adentro.

O mais engraçado é que o que as pessoas andaram a comprar é apenas uma versão de outras marcas, já que o verdadeiro chocolate do Dubai só se vende nos Emirados Árabes Unidos (spoiler alert!)

Ora o que me interrogo é, como seria o mundo se os influencers e os seus seguidores falassem de coisas importantes? Como seria se se preocupassem com alguma coisa que não seja vender e consumir?Imagino jovens a correr em massa para as urnas para exercer o seu dever cívico de votar. Ou a comparecer em acções de voluntariado. Em manifestações sobre coisas urgentes como a violência de género ou a emergência climática. Imagino produtos solidários, que realmente fazem a diferença e contribuem para uma causa, a esgotar em horas. Livros a desaparecer de todos os escaparates. Não era lindo?

Mas não. O que interessa é comprar aquele batom, aquela máscara de cabelo, aquele variedade específica de chocolate, entreter as massas e consumir, consumir, consumir, até esgotarmos todos os recursos de um planeta moribundo onde, ironicamente, a produção de cacau está a sofrer a maior quebra dos últimos quarenta anos devido às (surpresa!) alterações climáticas…