E lá vão eles, nos seus jatos privados, até ao Emirados Árabes Unidos para mais uma COP, a vigésima oitava, numa altura em que um relatório das Nações Unidas avisa que, por este andar, a temperatura vai subir três graus, e não os 1,5 acordados em Paris em 2015.
Ah, já se passaram oito anos sobre o Acordo de Paris? Sim.
E o que aconteceu desde então? Nada.
Mas agora é que vai ser, não é? Claro.
Aliás, vai ser simbólico e inesquecível. Duzentos países reunidos nos EAU, país que incentiva a liberdade de expressão e que acolherá activistas climáticos com muito amor e carinho, num centro de congressos futurista, construído com trabalho escravo, totalmente climatizado porque é barato ter o AC a bombar no deserto, onde a maioria dos convidados chegam em jatos privados e depois se deslocam em carros de alta cilindrada, para serem recebidos pelo Sultão Al Jaber, presidente da gigante petrolífera estatal, Adenoc.
Mas é importante envolver os países poluidores nesta luta, certo? Certíssimo.
Até porque um país que vive apenas e só do petróleo, vai ser o primeiro a querer debater o ponto mais importante da conferência que é estabelecer as fases da descarbonização, até se estabelecer uma data para o fim da exploração de petróleo e da agricultura intensiva. A conferência começou já com milhões atirados para o fundo de emergência climática. Tomem lá 100 milhões de dólares e não digam que vão daqui. Fácil, não é? E ainda antes de começar, já outra empresa ligada à família real dos EAU, a Blue Carbon, da qual é presidente o xeique Ahmed Dalmook al-Maktoum, assinou vários acordos de compensação de carbono com países africanos, que cobrem um quinto do Zimbabué, 10% da Libéria, 10% da Zâmbia e 8% da Tanzânia, numa área total de floresta maior que o Reino Unido. O último negócio da Blue Carbon fora assinado em outubro com o Quênia e envolveu milhões de hectares.
Mas está tudo bem, não se preocupem. Os países que estão em vias de desaparecerem do mapa agradecem as migalhas, em troca sabe-se lá de quê, nunca é claro, muito menos para as pessoas que ficam sem casa e sem subsistência, e os poluidores saem de lá com a consciência mais tranquila. Dia 13 teremos muita gente a congratular-se com os acordos alcançados, que são sempre os possíveis, nunca os desejáveis, e logo se vê.
Este ano foi o ano mais quente de sempre? Foi, mas para o ano há-de ser mais. Assim poupamos na roupa e quando não houver comida também não faz mal, que há por aí muita obesidade.
Um bom Natal para todos, especialmente para a comitiva britânica, que em vez de ir em um foi em três jatos, não fosse o Rei misturar-se com a plebe, isso que é que não, que é possidónio.

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