«E Se Eu Morrer Amanhã?», a história por detrás do livro

Quando uma amiga da minha mãe me contou que a senhora de 85 anos a quem fazia companhia tinha um namorado trinta anos mais novo e brinquedos sexuais debaixo da cama, abandonei imediatamente o livro que estava a escrever e fiz nascer a minha Helena. Oitenta e cinco anos? interroguei-me. Será caso único ou haverá outras mulheres dessa idade que se mantêm sexualmente activas? Porque é que eu, que me proclamo feminista e liberal, nunca tinha pensado sobre este assunto? Por preconceito ou porque ninguém fala disto? Fui na busca das respostas para todas estas interrogações que me deparei, por um lado, com a minha própria ignorância, por outro, com a evidência de que há muito sexo (e bom!) depois dos setenta.

Comecei, então, a escrever «E se Eu Morrer Amanhã?» com um objetivo em mente: desmistificar o assunto e fazer os leitores reflectirem sobre uma realidade que, ao contrário do que se possa pensar, não é assim tão pouco frequente. Ou por outras palavras, mostrar, através de uma história ficcional, que há pessoas de setenta, oitenta e noventa anos que têm amantes e, principalmente, que o desejo não se extingue com a idade. À medida que fui construindo a história percebi que esta era também uma oportunidade única de dar palco a uma protagonista octogenária, que não fosse doente, frágil, sozinha, esquecida ou demente, como sucede sempre que há uma personagem de certa idade na literatura ou no cinema. Uma oportunidade para mostrar que não temos de deixar de viver só porque chegamos a velhos. E ainda uma oportunidade para pôr o dedo na ferida do patriarcado, que durante séculos remeteu as mulheres para o lugar de esposas pacatas e obedientes, cujo papel era servir o marido e, depois de viúvas, desaparecer discretamente entre vestes negras, remetidas ao silêncio e, sobretudo, à invisibilidade.

«E se Eu Morrer Amanhã?» é, por isso, um manifesto contra o idadismo e pela libertação sexual das mulheres mais velhas, mas também das mais novas. Uma comédia onde acompanhamos a vida de Helena desde que ficou viúva e descobriu o prazer, até ao incêndio que a obriga a ir para casa da filha e confessar que, para espanto dos filhos e netos, não é uma viúva pacata.

Espero que esta minha obra sirva para iniciar o debate , porque numa sociedade com cada vez mais pessoas a chegar com saúde aos oitenta e aos noventa anos, torna-se imperativo normalizar as escolhas de vida de cada um e deixar de tratar os velhos como seres incapazes e fora do seu tempo. É importante que nós, os mais novos, voltemos a olhar os velhos com admiração, bebendo da sua sabedoria, celebrando rugas e cabelos brancos com alegria, em vez de andarmos desesperadamente em busca da juventude eterna. É também muito importante que todos encaremos a vida como uma viagem que pode sempre acabar amanhã, e que, por isso mesmo, deve ser vivida em pleno, seja qual for a idade. Convido-vos a conhecer a minha Helena. Tenho a certeza de que vai ficar muito tempo no vosso coração.

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