Quando estabilidade é sinónimo de estagnação

As primeiras legislativas em que votei foram em 1999. Guterres era primeiro-ministro desde 1995 e assim se manteve até 2002, altura em que desistiu e foi para longe daqui. Há vinte anos, portanto. Desde então, salvo breves interregnos, o país continuou a ser governado pelo PS com os resultados que se vêem. A propaganda socialista bem tenta pôr as culpas de tudo o que está mal no brevíssimo governo de Durão Barroso num país «de tanga» ou de Passos Coelho, agrilhoado à Troika, a qual teve de intervir na salvação do país sabe-se bem por culpa de quem. Mas por mais que tente, não há volta a dar aos factos. São mais de vinte anos em que podíamos ter avançado no sentido de reduzir o fosso que nos separava dos países mais prósperos da UE, mas que apenas serviram para acentuá-lo, sendo que neste momento estamos a ser ultrapassados por países como a Estónia, a Polónia e até a Roménia.

Mas pior do que o partido que mais anos esteve no poder nas últimas décadas mostrar uma imensa falta de competência e de visão estratégica, é haver um homem que fez parte activa do governo em 12 dos 23 anos a tentar convencer-nos de que ainda tem energia e capacidade para, agora sim, rumar o barco a bom porto. António Costa foi ministro de Guterres, braço direito de Sócrates e é primeiro-ministro há já seis anos, graças à aliança com a esquerda radical. Mas insiste em afirmar que a culpa de o país estar na penúria é do PSD e que só ele pode trazer estabilidade. Ele que nos ofereceu a maior carga fiscal dos últimos anos, um SNS em modo zombie, uma Escola Pública cada vez mais desfasada da qualidade de ensino que se pratica nos privados, dinheiro esbanjado para o buraco negro da TAP, o maior número de pobres desde a crise de 2008, jovens que não têm como iniciar uma vida independente, escalões de IRS que são um autêntico roubo para quem tem um salário minimamente aceitável a luz dos padrões europeus (como se alguém fosse rico por ganhar três mil euros por mês), zero aposta na agricultura sustentável, zero aposta na preservação do ambiente (o senhor nem se dignou a ir à COP26), um ministro que nos envergonhou durante três anos pela sua incompetência e arrogância, a insistência num aeroporto que vai estar afundado dentro de trinta anos, como aliás o país.

Além de não poder negar a sua responsabilidade no estado actual do país, algo que nem a pandemia pode desculpar, António Costa está enfadado. A sua linguagem corporal não consegue esconder o quão farto está de andar a fazer malabarismos e a dizer coisas em que já nem ele próprio acredita. Acena o orçamento chumbado como se tivesse, agora sim, ao fim de seis anos, descoberto a solução para os grandes problemas da pátria. Aliviado com a bazuca que lhe vai permitir fazer algumas obras que nem em quinhentos anos ele conseguiria fazer sem a esmola europeia, que como outras anteriores, será desperdiçada a resolver problemas de curto-prazo. Como se, com a mesma fórmula de mais despesa e menos receita fosse ter resultados diferentes. Como se mais Estado e menos privados fosse a solução. Precisamos de um Estado regulador, que promova a justiça social e impeça abusos de poder de qualquer espécie, claro que sim. Mas que não aniquile a iniciativa privada. Porque criar uma empresa não é crime. Ter lucro não é crime. Poder comprar uma casa com piscina não é crime. Crime é endividar o país e obrigar as próximas gerações a viverem na miséria em nome de uma ideologia do século passado.

Ideologias à parte, o país precisa de um novo rumo, acho que já se percebeu. Precisa de se liberalizar e libertar de fantasmas de uma ditadura que não pode mais servir de desculpa para o atraso em que vive. Precisa que sejamos exigentes com quem nos governa e paremos de votar no partido de sempre como se de um clube de futebol se tratasse. Precisa que, em vez de dizermos «não vou votar porque o meu voto não muda nada e os políticos são todos iguais», digamos «vou votar porque o meu voto pode mudar tudo e este país precisa de uma volta». Por isso, deixo o meu apelo: votem. Oiçam as ideias e os programas dos vários partidos. Façam este teste para descobrirem que partido se aproxima mais das vossas convicções. Não se deixem ameaçar pelo argumento da maioria absoluta como garante de estabilidade. Votem em que achem que poderá fazer diferente do que tem sido feito pelo actual governo. Porque melhor não é difícil.

ilustração: ©feministsforbreakfast

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