Este é o meu jasmim. Foi comprado há menos de um mês num conceituado viveiro de plantas. Estava lindo, verde, cheio de botões prontos para rebentarem quando chegasse a Primavera, inundando a minha pequena varanda com o seu aroma inebriante.
Estas são as minhas flores amarelas cujo nome não me recordo, supostamente muito resistentes e perfeitas para um lugar cheio de sol, de pouca manutenção (“Só tem de ir vendo se a terra está húmida”). E vou poupar-vos às imagens desoladoras dos outros vasos e canteiros, limitando-me a confessar que o cenário não é mesmo nada bonito de se ver.
Porque é que vos estou a mostrar este desastre da horticultura? Porque ao falar sobre o assunto com amigos e conhecidos, percebi que o mundo se divide em dois tipos de pessoas: as que sabem cuidar de plantas e as que as matam, sendo que eu pertenço, obviamente, ao segundo tipo.
Ano após ano, apartamento após apartamento, eu, Filipa Fonseca Silva, carrego aos ombros a culpa de ser responsável pelo genocídio de centenas de plantas. Logo eu, que tenho uma avó que é uma verdadeira fada verde, cujas varandas e jardins, incluindo as da casa de férias, sempre foram um encanto para os sentidos. Rosas, jarros, árvores de fruto, morangueiros, toda a espécie de plantas de interior e de exterior, florescem como se vivessem nas profundezas da Amazónia. Já os meus canteiros parecem vindos directamente do Sahara. Sei que herdei da minha avó muitas qualidades, mas nem uma pontinha da unha do seu dedo verde. E para mim, bastava uma pontinha de uma unha, a sério que bastava… Porque adoro plantas e varandas floridas e esta minha condição cobre-me de desgosto.
É que além da culpa de matar todos os seres de espécie vegetal que vivem comigo, tenho de suportar a vergonha de encarar as pessoas que me vendem ou oferecem as plantas, as quais normalmente estão convencidas de que eu segui as instruções básicas que me deram e consegui finalmente ter uma varanda que se apresente. E acreditem que eu sigo as instruções. Se me dizem para regar uma vez por semana eu rego uma vez por semana. Se me dizem que é todos os dias, eu rego todos os dias. Se me aconselham a por mais terra eu compro da melhor qualidade. Se me sugerem dar-lhes carinho eu fico uma hora na varanda a falar com elas. Sim, até falo com elas. Normalmente o monólogo é algo deste tipo:
«Então, pequenina, estás um bocadinho amarelada, não estás? O que é que foi? A terra está húmida, o tempo está maravilhoso, o que se passa contigo? Não me vais morrer, pois não? Vá. Tu consegues. É quase Primavera. É a altura certa para cresceres e florires e seres uma planta linda e feliz! Não queres ser uma planta linda e feliz? Eu sei que tu queres. Vá, vamos lá a ficar verdinha e saudável, sim?»
Nos dias em que me sinto mais frustrada, sai algo mais desde género:
«Bom, então o que é que se passa aqui, hein? Sinceramente não te percebo. Eu venho cá todos os dias, estou sempre a arrancar as folhas secas, a despejar borras de café na tua terra, a verificar os níveis de humidade e tu, nada? Nem um bocadinho de verde? Já viste o teu estado, aí toda ressequida? Eu não sei que mais fazer! Podias colaborar um bocadinho, não achas? Tu não morras! Ouviste? Não morras, sua plantinha acéfala e teimosa!!!!Nãooooooooooo!!!!!!»
Também já tentei a abordagem sugerida por uma engenheira agrónoma, que me disse que as plantas gostam de ser maltratadas. Que não podem ser regadas de mais, que basta ir retirando as folhas secas e deixá-las estar. Pois. Comigo essa abordagem só serviu para acelerar a morte das pobrezinhas.
O mais surpreendente nisto tudo é que eu sou uma excelente cuidadora de pessoas e de animais de estimação. Excepto peixes. Também nunca consegui que nenhum peixe meu durasse mais de seis meses. Talvez seja um problema de comunicação. Talvez não consiga lidar com seres que não me dão resposta, que não me dão um sinal…
Mas adiante. Para nós, assassinos de plantas, almas destinadas a arder no inferno, totalmente inaptas para manter viva qualquer espécie floral, a coisa mais irritante é ouvir alguém dizer que não há nada mais simples do que cuidar de uma planta.
-Como é que fazes?
– Não faço nada. Ela simplesmente está aí, linda e florida, sempre perfumada.
– Mas pões algum substrato, usas água engarrafada, mudas os vasos de lugar?
– Não. Rego-a de vez em quando e pronto.
É tão irritante como pedir a alguém a receita do fabuloso arroz doce que nos deu a provar e, quando a tentamos fazer em casa, não tem nada a ver.
Na verdade, há assassinos de plantas que estão completamente conformados e em paz com a sua condição. Já se resignaram a comprar plantas falsas ou a delegar o cuidado da fauna a terceiros. Como uma amiga que comprou uma planta enorme, tipo árvore mesmo, mas como a empregada, que é quem mantém os seus canteiros frondosos, estava de férias, deixou o mamarracho no meio da sala durante uma semana, até a senhora chegar e lhe indicar onde devia colocá-la.
Outros estão-se a borrifar e nem sequer gostam de plantas.
Não é o meu caso. Eu sou das que considera isto uma maldição, mantendo a esperança de um dia conseguir contraria-la. Como uma outra amiga, que me ligou em total euforia porque, após matar a sua vigésima orquídea, andou um mês a estudar a espécie na net, passeou o seu exemplar pela casa perseguindo o sol e conseguiu que ela desse uma flor. Quase chorei de genuína alegria por ela, relembrando o momento em que o morangueiro que plantei no inverno deu um único e deformado morango no verão seguinte. É a isto que nos reduzimos, estão a ver? Deprimente.
Por isso, caros leitores, se houver um Apocalipse e for necessário usar aquelas sementes que estão guardadas num cofre no Ártico com o intuito de reflorestar o planeta, façam tudo para que nenhuma delas nos venha parar às mãos. A sério.
Opá…sou tal e qual…não sei o que fazer. Eu cumpro tudo à risca, todas as regras, e morre tudo. Sou um caso perdido! A minha mãe passa-se comigo…logo ela que adora flores. E o pior é que de vez em quando já me oferecem flores (sim, que comprar só de plástico) e eu sinto-me na obrigação de tratar a planta o melhor possível por ter sido uma oferta e depois fico com remorsos.
GostarGostar
LOL não desistas Filipa! Eu vivi 1 ano na Alemanha a partilhar casa com a senhoria e a sua família. No verão de 2008 decidiram ir de férias para Ibiza e de deixar as plantas ao meu cuidado. Segui as instruções o melhor que pude e pensava que estava a fazer um bom trabalho. Só tive oportunidade de voltar a falar com a senhoria apenas uns dias depois de já terem voltado e aí perguntei:
– As plantas estão boas?
– Estavam a murchar, mas consegui resuscita-las sem stress!
Aí percebi que tenho a mesma maldição que tu. Mas olha, experimenta plantar Cannabis. Eu pensava que era um caso perdido, mas descobri que consigo dar vida a essas sementes lol
GostarGostar
ahaha e que bela planta essa 😉
GostarGostar
Uma última tentativa:
Vamos convidar a Avó para ir aí a casa dar uns ensinamentos?
GostarGostar
boa ideia 😉
GostarGostar
Ahhh! fartei.me de rir…mas,já tive menos jeito…mas,as minhas flores gostam de eu ir de férias…chego estão lindas na marquise…sem sol direto e dentro de alguidarinhos…da cozinha,,,tigelinhas e por aí…melhor do que quando pedia para as regarem…
Resulta não gostam de mudar de sitio e de correntes de ar..sol da manhã e sendo assim…
sossego.
GostarGostar